os derivativos na transformação do mercado de energia elétrica

Derivativos e o futuro do mercado da energia elétrica

Os derivativos são uma forma de proteger agentes do setor elétrico via contratos firmados para compra e venda de energia. Com grandes empresas entrando para realizar operações estruturadas no mercado de energia, a expectativa é que os contratos financeiros sejam cada vez mais comuns e com maior liquidez.
Tempo de leitura: 6 min

Os derivativos protegem e facilitam a negociação do preço da energia elétrica. Eles desempenham um papel fundamental como instrumentos financeiros. Produtores, consumidores e intermediários do setor elétrico podem utilizar os derivativos como uma ferramenta eficaz para gerenciar os riscos associados às oscilações de preços da energia.

As empresas dependem da energia elétrica como insumo básico para manter sua capacidade produtiva. Qualquer variação brusca no preço da energia afeta o mercado, especialmente as indústrias eletrointensivas, que possuem uma maior dependência em relação à competitividade do negócio diante do preço da energia.

Nos últimos anos, o mercado de energia passou por várias oscilações devido a diferentes fatores, como a crise hídrica, a pandemia e a escassez de produção de petróleo devido a embargos à Rússia. Portanto, é necessário proteger-se da volatilidade na compra e venda de energia, considerando a influência de vários fatores no preço.

A desregulamentação do setor elétrico, a abertura para o mercado livre e as flutuações de consumo, câmbio e escassez hídrica no mercado impulsionaram a estruturação da energia como uma ‘commodity’ com maiores possibilidades de negociação no mercado B2B. Isso resultou no surgimento de derivativos. A expansão desses derivativos foi impulsionada pelo mercado livre de energia, que facilita as negociações entre os agentes. Nos próximos anos, o comércio varejista, seja B2C ou por aglutinação de carga, regulará esse mercado.

O mercado de derivativos de energia elétrica

Os derivativos de energia elétrica desempenham um papel importante no mercado financeiro. Esses contratos têm como base um ativo subjacente, no caso, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que é publicado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).

O PLD é um indicador da relação entre oferta e demanda de energia no mercado brasileiro e serve como referência para os preços no mercado livre de energia de curto prazo.

Os derivativos estão geralmente vinculados à liquidação financeira, mas, no caso da energia elétrica, também podem estar vinculados à entrega física da mercadoria. O resultado da negociação é determinado pela diferença entre o preço acordado e o preço de mercado do ativo.

Esses derivativos podem ser negociados por comercializadores, geradores e consumidores de energia. São ferramentas utilizadas para controlar e proteger o mercado, permitindo que os participantes reduzam as incertezas causadas pelas oscilações nos preços do ativo. Essa estratégia é conhecida como “hedge”. Além disso, os derivativos também podem ser utilizados para buscar lucros com base no comportamento dos preços do ativo.

Modalidades de derivativos de energia

1. Contrato futuro

Um contrato futuro representa o compromisso de comprar ou vender um ativo por um preço determinado em uma data futura. Os contratos futuros são avaliados diariamente com base no preço de referência, conhecido como preço de ajuste diário. Isso significa que as operações são ajustadas diariamente de acordo com as expectativas do mercado em relação ao preço futuro do ativo subjacente.

2. Contrato "a termo"

Os contratos “a termo” permitem fixar o preço de um ativo para ser liquidado em uma data futura. Ao comprar um contrato “a termo”, o comprador se compromete a adquirir uma determinada quantidade de mercadoria ou ativo financeiro por um preço estabelecido desde o momento da negociação, com a liquidação ocorrendo em uma data futura.

3. Opções

As opções conferem o direito de negociar um ativo por um preço fixo em uma data futura. Para adquirir uma opção, é necessário pagar um prêmio ao vendedor. Esse prêmio não é o preço do ativo em si, mas um valor pago para ter a possibilidade de comprar ou vender o ativo no futuro.

4. Swap

O swap é um contrato utilizado para trocar a rentabilidade entre dois ativos durante um determinado período. Essa troca é baseada na comparação entre dois indexadores, como índices de inflação, ações, taxas de juros, taxas de câmbio, entre outros.

Exemplos de cenários aplicados

Para demonstrar como o mercado de derivativos pode ser uma ótima opção para quem deseja se proteger da volatilidade do mercado, realizamos uma simulação de um contrato de longo prazo negociado no início do PLD horário (onde o mercado começou a precificar o PLD conforme o horário da demanda, sendo que antes deste período era precificado semanalmente).

Nesta simulação assumimos um valor de contrato de longo prazo, cuja somatória dos valores das diferenças entre o contrato e o mercado para o período analisado foi zero. Assim o valor “flat” indicado de R$ 212,12 representa prejuízo para o contratante caso o PLD esteja precificado abaixo deste valor e lucro caso este sub precificado em relação a PLD.

Derivativos e o Mercado de Futuro e Mercado Curto prazo

Cenários de baixa volatilidade e preço geralmente representam o melhor momento para um contrato Hedge, pois ajustam a previsibilidade tanto de geradores quanto de consumidores. 

No gráfico exposto, POR EXEMPLO, houve momentos de elevada volatilidade (R$/MWh) atrelada a subida abrupta do preço. Nesta fase, os contratos atrairão maiores riscos aos agentes.

Contratos financeiros e contratos físicos no mercado de derivativos

No mercado de derivativos as liquidações podem acontecer de duas maneiras, através de uma liquidação financeira ou a liquidação com a entrega do produto, nesse caso a energia. 

Nos contratos financeiros não é necessária a entrega física da energia, a negociação é liquidada pela diferença entre o preço fixado e o negociado, é realizado na administradora de mercado e acontece no momento da negociação e o risco é bilateral. Por se tratarem de contratos financeiros, não é necessário o registro na CCEE, as negociações podem acontecer através do mercado de balcão  quanto em bolsa de valores.

Para os contratos físicos, necessariamente envolve a entrega física da energia, a negociação é liquidada pelo valor integral do contrato. Todos devem ser registrados na CCEE e o registro deve acontecer até o sexto dia útil do mês seguinte ao da geração ou do consumo. Os riscos de créditos são bilaterais e envolvem outros riscos associados ao MCP (GSF, insuficiência de lastro, rateio de inadimplência).

Mercado de curto prazo

Conhecido como MCP ou mercado ‘spot’, é o momento onde consumidores e geradores realizam ajustes e estratégias para alcançarem o balanço energético mensal, seja comprando ou vendendo energia, esse período acontece entre o 1° e o 6° dia útil de cada mês e é um momento de ajuste entre a energia disponível e necessária para fechar o mês para realizar suas operações. O MCP é baseado no valor de negociação do PLD acrescido de uma taxa de operação. A exposição pode ser uma estratégia, porém está sujeita às intempéries de mercado. É importante salientar que o consumo de curto prazo acontece quando existe excesso ou falta de energia. 

Mercado de longo prazo

No Ambiente de Contratação Livre, é possível comprar energia de um ou mais agentes, seja através de um contrato de alguns meses até anos, essa modalidade de contrato garante condições mais estáveis em relação à (custos) e reajustes da energia elétrica, ou seja, maior previsibilidade de custos. Uma boa estratégia de gestão energética integra um bom dimensionamento de carga aliada com o período de negociação do mesmo.

Negociar derivativos exige ter uma conta em uma corretora de valores. Essas instituições realizam a intermediação das operações no pregão da B3. Para o caso específico desse mercado, vale a pena considerar alguns aspectos em especial.

Por que os derivativos são o futuro do mercado elétrico?

A experiência internacional demonstra que derivativos provêm maior liquidez ao mercado de energia, o que é um elemento fundamental para agregar valor e dar segurança nas operações de todos os envolvidos na cadeia, do consumo à geração. 

A prática é comum em diversos países, o uso de derivativos contribui para melhorar a gestão de riscos, a formação de preços e ampliar a competição no mercado, atraindo recursos, principalmente de agentes financeiros interessados em produtos de energia. No caso da Alemanha, o volume de energia negociado é onze vezes maior que o consumo.

O que podemos perceber é que derivativos de energia elétrica são mais uma solução para aumentar a liquidez do mercado elétrico, proteção de agentes, mas principalmente atração de novos stakeholders que não querem se envolver com a entrega física da energia, como no caso de bancos e grandes fundos.

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Sobre o autor:

Raphael Ladeira

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